Hoje seu trabalho se constitui basicamente a partir do uso da fotografia e do vídeo. Você sempre trabalhou com esses dois meios?
Não. Na verdade eu comecei a trabalhar em 2010 com escultura, uma escultura planar. Eram objetos que lembravam o formato de tijolos ou tacos de piso de madeira, feitos de cera, de diferentes camadas de cera de diferentes cores, que eu colocava direto no chão. Eles são bem rasteiros e lidavam com uma questão modular dos tacos de madeira e a própria construção a partir de camadas, como acontece com a pintura. Naquele momento me interessava trabalhar com a cera por ser um material maleável. É possível criar formas muito distintas com o mesmo material, que me dava também a variedade de cor a partir da aplicação de pigmento e meios de explorar questões como cheio, peso, resistência e etc. Ainda em 2010, fiz um trabalho com peças amorfas de cera onde colocava em cima diferentes objetos na tentativa de tentar equilibrá-los. Eu estava tentando realizar esculturas a partir do mesmo princípio do [Constantin] Brancusi, da colagem de objetos distintos, mas no meu caso a tentativa de equilíbrio de um corpo em cima desse amontoado de cera durava poucos segundos. Tinha uma precariedade nesse processo e aí entra a fotografia, que tornava possível, em registro fotográfico, essa estabilidade e equilíbrio dos dois corpos.
Trabalhos como Esculturas de Segundos, Strike e Atlante ainda lidam com essa questão da possibilidade de existência a partir da fotografia. Como se dá esse processo?
Eu trabalho com fotografia de disparo rápido, e a ajuda de outra pessoa, que cuida da câmera para mim. A partir das minhas indicações ela faz várias fotos e depois eu escolho as que funcionam melhor. As imagens que são mais limpas e precisas, sem movimentos que borrem ou manchem as imagens. O obturador rápido dá ao trabalho essa possibilidade de um desenho limpo, de um caráter asséptico da imagem. Isso é importante. Me interessa a ideia de congelamento, de precisão. Não há força aparente sendo feita ali na relação entre os dois corpos que estão na imagem. Ao contrário. São imagens que trazem leveza.
Como esse processo de registro da imagem, seja por fotografia ou por vídeo, tem se desdobrado na sua produção agora?
Tem me interessado pensar em maneiras de criar uma narrativa mais forte através da construção mais elaborada da cena, da ação, incorporando elementos como o som, por exemplo. Me interessam esses elementos que são mais cinemáticos, numa investigação mais profunda das possibilidades do vídeo por exemplo e não só usá-lo como mecanismo de registro. Tenho buscado uma construção mais complexa da imagem a partir do tempo, do espaço e do corpo. Entendo todos os artistas minimalistas, mas acho que estou fazendo o caminho inverso. Eles saíram do plano da pintura para trabalhar o objeto. Eu comecei no objeto e tenho caminhado cada vez mais para o plano virtual da projeção da imagem. Donald Judd, Carl Andre e Richard Serra foram nomes de referência para esse início, mas tenho cada vez mais olhado para o cinema.
Maio de 2014.